Francisco: Processo de transformação da Igreja promovido pelo Papa é «irreversível» – Rita Sacramento Monteiro

Escrito em 29/04/2025
Leonor João

Membro da Fundação ‘Economia de Francisco’ analisa o alcance do pontificado do Papa e temas que marcaram os 12 anos

Lisboa, 29 abr 2025 (Ecclesia) – Rita Sacramento Monteiro, da Fundação ‘Economia de Francisco’, considera que a transformação levada a cabo pelo Papa Francisco na Igreja não pode ser revertida.

“O processo de transformação que o Espírito Santo pôs em marcha através do Papa Francisco, como pastor da nossa Igreja, é irreversível”, afirmou, em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido esta segunda-feira, na RTP2.

Apesar de o futuro Papa poder ter um “novo perfil”, as “suas causas”, a “sua personalidade”, que devem ser acolhidas, a entrevistada refere que “há um processo em marcha na Igreja”.

“Houve um movimento forte de uma mudança, uma transformação cultural que eu acho que não volta atrás. Tem que continuar”, sublinhou.

Rita Sacramento Monteiro destaca que a transformação da estrutura central da Igreja foi a primeira mudança implementada por Francisco, a que se seguiram muitas outras como “a criação de novas áreas, novas nomeações, uma maior participação dos leigos” e das mulheres e a “inclusão de mulheres em cargos tão importantes da vida institucional da Igreja”.

“Esse processo inicial foi um sinal importante e foi um sinal também de um homem que sabia que é muitíssimo importante a questão da coerência”, indica.

Segundo a entrevistada, todas as “questões da corrupção” e todo o “dossier dos abusos, foi uma purificação, foi uma vontade purificar, de abrir as janelas para o Espírito entrar”.

“[Francisco] iniciou uma transformação que vai para além da pessoa. Eu acho que ele ajudou, ele permitiu que aquilo que tantos de nós já sentíamos como inquietações pudesse ter ainda mais tradução e pudesse ser mais espelhado”, assinalou.

Rita Sacramento Monteiro destaca que o amanhecer sem o Papa Francisco é “estranho”, porque deixa de se ter no presente “uma voz e uma presença que faz muita falta naquilo que pedia ao mundo, nomeadamente em relação à paz”.

“Eu penso que [o Papa Francisco] amadureceu-nos a todos na fé”, afirma a entrevistada, através do incentivo a não ter medo de continuar a caminhar.

O membro da ‘Fundação ‘Economia de Francisco’ aponta que o processo sinodal, que representa o culminar deste pontificado, é um exemplo disso.

“É um legado importante que deixa o Papa Francisco, que leu muito bem, eu acho que ele foi um leitor exímio do tempo atual, do tempo contemporâneo. E, portanto, para lá, todos os outros processos que iniciou, diria que o processo sinodal é um legado muito importante nesta questão de uma maturidade na fé”, salientou.

Um percurso que está traçado até 2028, com a realização de uma Assembleia Sinodal, que Rita Sacramento Monteiro enaltece, além de outros gestos como o facto de não ter escrito texto adicional nas conclusões do Sínodo.

“A sinodalidade não pode correr o risco, nem o Papa Francisco queria isso, nem a igreja precisa disso, de ser um processo técnico. É um modo de ser e de estar em igreja. É uma atitude espiritual e humana que nos deve mobilizar e começar-se a traduzir cada vez mais nas nossas comunidades eclesiais”, enfatiza.

Falando das várias áreas tocadas por Francisco, que criticou a economia que mata e apresentou uma solução – movimento ‘Economia de Francisco’ -, de acordo com Rita Sacramento Monteiro, esta “é cada vez mais traduzida” e tem que ser cada vez mais traduzida na realidade das organizações, das empresas e das paróquias.

O Papa “vem dizer que uma economia que sirva uma verdadeira ecologia integral, que cuide o ambiente e que cuide das pessoas e que considere que está tudo interligado, é uma economia onde o centro não pode ser o dinheiro, o centro não são os sistemas financeiros, o centro tem que ser a pessoa humana”, afirmou.

Durante o pontificado, Francisco propôs “o Pacto Educativo Global”, lançado em 2020, assente em sete compromissos.

“O Papa foi também muito sábio em perceber que a educação é um motor para toda a transformação da Igreja, do mundo. E que também o Evangelho e a nossa fé têm que falar no campo educativo”, defende Rita Sacramento Monteiro.

Sobre a guerra, o membro da Fundação ‘Economia de Francisco’ considera que olhar para o tema como o “ponto frágil” do Papa nasce “do desejo tão grande de paz” que cada um tem.

“E o Papa Francisco também teria, sobretudo, mais do que frustração, uma tristeza enorme. Ele oferece até o seu sofrimento dos últimos dias da sua vida, das últimas semanas, por todos aqueles que sofrem e por todos os conflitos que há no mundo, mais do que dizer que é o ponto frágil, eu diria que é uma chaga da humanidade”, lembra.

Rita Sacramento Monteiro fala que não tem dúvidas de que “a Igreja continuará a apelar à paz”, acrescentando que o “Papa Francisco também foi mais longe do que o tema”.

“Atualizou o pensamento social-cristão, indo além do tema da guerra justa e dizendo que a guerra nunca é um bem, precisamos de paz”, recordou.

O Papa Francisco faleceu no dia 21 de abril, aos 88 anos de idade, na sequência de um AVC, quando se encontrava em convalescença na Casa de Santa Marta, no Vaticano.

PR/LJ

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