Portugal: «É urgente restabelecer a confiança dos cidadãos nas instituições», afirmou D. José Ornelas

Escrito em 28/04/2025
Manuel Costa

No início da Assembleia Plenária, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa referiu-se às próximas eleições e disse que o «caminho iniciado» pelo Papa Francisco que «precisa de ser continuado»

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Fátima, 28 abr 2025 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou hoje que o caminho iniciado pelo Papa Francisco “precisa de ser continuado”, referiu-se ao processo de compensações das vítimas de abuso e disse que é necessário “restabelecer a confiança dos cidadãos nas instituições”.

“À porta de mais uma campanha eleitoral, chegou a hora de os partidos políticos assumirem, de forma honesta, clara e inequívoca, que é urgente restabelecer a confiança dos cidadãos nas instituições, agir com ética e responsabilidade e promover um diálogo construtivo entre os diferentes agentes políticos e as forças vivas da sociedade”, afirmou D. José Ornelas.

No discurso de abertura da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), o também bispo de Leiria-Fátima afirmou que “é fundamental que o debate pré-eleitoral se concentre sobre as questões reais que interessam ao país servindo para esclarecer os eleitores e motivar à participação democrática nas votações em perspetiva”, mais do que em “estratégias partidárias e antagonismos pessoais”

“No ano em que se assinalam 50 anos das primeiras eleições livres, que nenhum cidadão deixe de votar nos atos eleitorais que se aproximam, honrando este marco histórico da democracia do nosso país e escolhendo, de forma esclarecida, os representantes que nos governam”.

D. José Ornelas disse que a realização de eleições legislativas, no dia 18 de maio, por causa da dissolução do Parlamento, “vem agravar a difícil situação de vida de muitos portugueses e portuguesas, bem como daqueles que procuram o nosso país em busca de melhores condições de vida”.

O presidente da CEP citou o estudo da Cáritas Portuguesa que alerta “para um número elevado de situações extremas de exclusão social e para um retrocesso no combate à pobreza em áreas como a alimentação, a habitação ou o acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente a saúde mental”.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Na abertura da 211.ª Assembleia Plenária da CEP, D. José Ornelas referiu-se ao “ambiente de luto pela partida do Papa Francisco”, “assumido com muita intensidade por toda a Igreja” pela partida de “um irmão e de um pai apreciado e querido, na Igreja e no mundo”.

“É igualmente tempo de ação de graças pelo testemunho de fé e pelo caminho sinodal de transformação renovadora que imprimiu à Igreja, a partir do acolhimento, da escuta mútua e do discernimento no Espírito, como fundamento da missão comum e corresponsável de todos no anúncio transformador do Evangelho, a começar pelos mais pobres”, sustentou.

É grande e mobilizador o legado que o Papa Francisco nos deixa, como caminho iniciado que precisa de ser continuado, como ele mesmo repetia. O ambiente pascal em que ocorreu a sua partida deste mundo – na manhã da segunda-feira de Páscoa, quando tem início a recuperação dos discípulos e a transformação do mundo a partir da ressurreição de Jesus – esse ambiente ilumina, também hoje, os percursos em que estamos empenhados e a atitude que somos chamados a assumir. Somos ulteriormente convocados pela voz, agora mais convincente, do Papa Francisco, a sintonizar-nos com a atitude de esperança ativa e sinodal, no contexto do ano jubilar que ele próprio liderou, caraterizando-o como percurso de ‘Peregrinos de Esperança’”.

O presidente da CEP disse que toda a Igreja se deve unir aos cardeais eleitores, que se vão reunir em conclave a partir do dia 7 de maio, “pedindo que Deus dê à sua Igreja um novo sucessor de Pedro, que continue a ser expressão da presença do Espírito que a une, conduz e envia, como fermento e semente de transformação do mundo na fraternidade, na justiça e na Paz, para ‘todos, todos, todos’”.

O presidente da CEP lembrou que o Papa Francisco deu sinais de que o caminho sinodal é “irreversível para a renovação eclesial”, afirmando que a Igreja em Portugal está a dar continuidade a este processo, a retomar nomeadamente nas próximas jornadas pastorais, em junho.

D. José Ornelas referiu-se também à Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, nomeadamente à resposta aos pedidos de compensação financeira apresentados por 77 pessoas, indicando que comissões de instrução vão ouvir todas pessoas que efetuaram o pedido e produzir os pareceres que serão entregues à Comissão de Fixação da Compensação até ao final de setembro.

Tal como previsto inicialmente, será criado um fundo da Conferência Episcopal Portuguesa para atribuir o montante da compensação a cada uma das pessoas vítimas e que contará com o contributo solidário de todas as Dioceses e Institutos de Vida Consagrada. Estes são temas aos quais vamos dar seguimento durante esta Assembleia, com o objetivo de concluir este processo até ao final do ano”.

O presidente da CEP, renovando a gratidão “a todas as vítimas que têm vindo falar do seu doloroso passado e aos competentes profissionais das diferentes Comissões de Instrução que as têm acolhido e acompanhado”.

O bispo de Leiria-Fátima referiu também à guerra na Ucrânia, no Médio Oriente e noutros pontos do globo, às “tensões económicas e geopolíticas que se fazem sentir” e que “exigem da comunidade internacional um diálogo e uma diplomacia que tenham presente a urgência da paz, a salvaguarda dos direitos humanos e o respeito pela dignidade de todos os povos”, afastando “retóricas populistas, demagógicas e ameaçadoras” de lideranças políticas.

A 211.ª Assembleia Plenária da CEP decorre em Fátima até ao dia 1 de maio, quinta-feira; hoje, pelas 18h30, na Basílica da Santíssima Trindade, os bispos de Portugal celebram uma Missa em memória do Pontificado do Papa Francisco.

PR

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