No passado domingo, dia 24 de setembro, na Eucaristia das 19h00, o Frei Hermano Filipe, apresentou à Comunidade Cristã o novo guardião, Frei Manuel Rito Dias. No momento da homilia, que partilhamos abaixo, o Frei Filipe, procurou fazer uma breve avaliação deste último triénio e apontar alguns caminhos de comunhão e de futuro:
«Queridos irmãos e irmãs,
entre os quais se incluem, naturalmente,
os meus irmãos capuchinhos,
e o frei Manuel Rito, que me sucede como Guardião da Fraternidade.
No início do triénio, como todas as famílias, também nós fomos profundamente afetados pela pandemia causada pela Covid-19. A reabertura da igreja, em segurança, para a celebração da Páscoa de 2021, foi possível graças ao sentido de responsabilidade de todos e à ajuda incansável da Equipa de Acolhimento, que hoje é um dos rostos mais fraternos da nossa igreja. Apesar do medo, encontramos na fé e na comunidade um bálsamo para ajudar a curar ao menos algumas das muitas feridas abertas pela experiência traumática da pandemia.
Nos meses seguintes, o Conselho Coordenador, que é composto pelo responsável de cada grupo, e a quem muito agradeço a paciência e disponibilidade, mostrou o desejo de fazer mais do que um mero calendário de atividades. Pediu a elaboração de um plano que definisse prioridades pastorais e fosse capaz de dar um fio condutor à ação dos grupos da Comunidade.
Nesse sentido, ao longo destes dois anos pastorais, 2021/22 e 2022/23, porque o nosso triénio acabou reduzido a dois anos pastorais completos, vivemos a nossa vida de fé sob o lema «Com Santo António, Guardiães da Criação».
Era nosso desejo que nos pudéssemos ajudar mutuamente a um compromisso cada vez maior com o cuidado da criação. Isso suscitou o nascimento do Grupo Laudato Si’, que se tem desdobrado em inúmeras atividades, a última das quais, bem visível na fachada e no muro da igreja.
Mas nem os sucessos nem os insucessos pastorais se podem atribuir apenas ao trabalho dos últimos dois anos. Este é um caminho que vem sendo percorrido há quase 89 anos, pelos irmãos Capuchinhos e pelas outras fraternidades, secretariados, grupos e demais pessoas que se sentiram chamadas e congregadas pelo próprio Senhor a construir comunidade:
A Fraternidade dos Capuchinhos, que se empenha diariamente no atendimento dos fiéis, na portaria e na igreja, em colaborar com os sacerdotes vizinhos, na visita aos doentes, entre muitos outros serviços, e a quem agradeço reconhecido. Em abono da verdade, o que de bom se possa atribuir à ação dos Capuchinhos em Barcelos nos últimos anos, deve-se apenas e só aos meus irmãos. Por outro lado, eu assumo, com o renovado e sentido pedido de perdão, o que de menos bom possa ter acontecido ao longo deste tempo.
Temos depois a Fraternidade da Ordem Franciscana Secular, que procura despertar nos irmãos o desejo de serem testemunhas de Jesus ao jeito de S. Francisco de Assis.
Também a Fraternidade da JuFra, que tem o mesmo ideal que a OFS mas é composta apenas por jovens.
O Secretariado da Catequese, que procura ajudar cada criança e jovem a conhecer Jesus.
O Secretariado das Missões, que procura sensibilizar a comunidade para a vocação missionária de todo o batizado.
O GASC, que é, como o próprio nome indica, um grupo de ação social cristã, que intervém essencialmente em quatro grandes áreas: violência doméstica, dependências, carência socio-económica e pessoas em situação de sem-abrigo, no fundo, tudo situações de alguma forma de pobreza, que apenas se consegue fazer rimar verdadeiramente com incerteza, a qual trás consigo angústia e, tantas vezes, desespero a pessoas e famílias. O meu maior arrependimento destes dois anos pastorais foi o de não ter estado mais presente junto dos utentes do GASC, pois é preciso servi-los com as nossas próprias mãos. Os pobres não são apenas os beneficiários da nossa caridade; eles são nossos mestres.
O grupo Shalom, que é um grupo coral, e que há muitos anos ajuda a Comunidade a elevar o coração a Deus com a beleza do canto.
O grupo Adonai, que é um grupo de jovens, também muito conhecido no concelho de Barcelos, e que ajuda a comunidade a viver a alegria jovial do Evangelho.
Temos ainda inúmeros outros grupos e serviços de apoio à sagrada liturgia, como o coro Fratelli, o coro das 08h00 ao domingo, os Leitores, os Ministros Extraordinários da Comunhão, os acólitos, a equipa da Bênção dos Peregrinos, a florista e as famílias que zelam os altares, as pessoas que limpam e cuidam e tantas outras que colaboram das mais diversas formas.
A todas / a todos, o meu muito, muito obrigado.
Ao nível das obras, se, no primeiro destes dois anos, nos focamos em cuidar da casa comum, como o é também a nossa igreja, entre outras coisas, renovando o telhado e o chão, melhorando a instalação elétrica, instalando painéis fotovoltaicos e um sistema de climatização, neste segundo ano, focamo-nos na implementação do plano de acessibilidades.
Não apostamos em pinturas exteriores da igreja ou do convento, porque sabemos que as famílias atravessam momentos de grande dificuldade e que isso poderia ser lido como vaidade e indiferença diante do sofrimento das pessoas. Pelo contrário, procuramos fazer obras sem nunca ser pesados às pessoas.
Mas este tipo de obras é o menos importante. O que mais alegria pastoral me deu foram três outras coisas:
Primeiro, ver nas sextas à noite do Advento e, sobretudo, da Quaresma, tantas pessoas que procuravam a nossa igreja para rezar em silêncio ou em comunidade, adorar Jesus no sacramento do altar, e celebrar o sacramento da reconciliação.
Segundo, sentir que se conseguiu criar na igreja e nos grupos um clima de serenidade e de paz, propício à escuta, à partilha e à oração.
Terceiro, a capacidade que os nossos jovens - e aqueles e aquelas que os acompanham mais de perto – têm de mobilizar forças, pessoas e recursos para os projetos que abraçam com ousadia missionária e responsabilidade. Assim aconteceu na preparação e realização da semana missionária em Elvas, em 2022, e assim aconteceu com a sua participação na Jornada Mundial da Juventude, no passado mês de agosto, e em tantas outras situações que me deixaram sempre muito orgulhoso como pastor. Assim estou certo que continuará a acontecer.
Querido Frei Rito, nos últimos meses, a nossa igreja tem sido cada vez mais procurada por cristãos de África e, sobretudo, da América do Sul, que vieram viver para Barcelos. É preciso acolher estas pessoas como aquilo que são: pessoas. E, mais, pessoas que são um dom de Deus, irmãos e irmãs que Ele nos dá para fazerem coro connosco num hino de louvor e ação de graças.
Juntamente com os grupos da comunidade e das pessoas que vão passando pela nossa igreja, sabemos de onde vimos e sabemos para quem vamos: contemplando a Santíssima Trindade, que é a melhor comunidade, desejo que procurem continuar a reunir para Deus uma assembleia de pessoas que escutam a Palavra de Deus e se abrem à ação do Espírito Santo, uma comunidade acolhedora, que sabe amar, porque sabe também pedir perdão e perdoar, e que é capaz de sonhar e de fazer aquelas coisas que, aos olhos de Deus, são verdadeiras, boas e belas.
Da minha parte, tendo já pedido perdão pelos meus muitos pecados, resta-me agradecer o carinho de todos. Sei que vou sentir saudades, das pessoas com quem me cruzo todos os dias a caminho do hospital, desta cidade linda, do vinho verde e do Óquei de Barcelos, mas sobretudo vossas.
Mas, por muito estranho que possa parecer, eu tenho de partir, precisamente porque vos amo. Não com aquele amor excessivamente afetivo, raramente saudável, que prende e nos prende como estacas a um lugar; mas com aquele amor de Jesus, que é libertador e que se compreende à luz da fé: «Tenho de anunciar a Boa-Nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado» (Lc 4,43).
Quanto mais verdadeiro for o meu seguimento de Jesus, mais amor terei para dar. É por isso que tenho de partir.
Querido Frei Rito, a nossa Ordem confia-te o cuidado da Fraternidade dos Capuchinhos e desta Comunidade Cristã: “sê um pastor com o cheiro das ovelhas”!»